Neste ano de lançamento da geTup – Revista de Educação Geográfica da Universidade do Porto, agora no seu número dois, estão a operar-se transformações fundamentais no sistema educativo português. Efetivamente, nos seis meses que decorreram desde a edição do primeiro número, três documentos vêm colocar novos desafios à comunidade escolar, nomeadamente aos professores de Geografia, que facilmente percebem a pertinência dos temas que trabalham com os seus alunos para a concretização da generalidade dos Princípios, Visão, Valores e Áreas de Competências definidas no Perfil do Aluno. Salientam-se, assim, o Despacho nº 6478/2017, de 26 de julho, que homologa o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória; o Despacho nº 5908/2017, de 5 de julho, que “autoriza, em regime de experiência pedagógica, a implementação do projeto de autonomia e flexibilidade curricular [PAFC] dos ensinos básico e secundário, no ano escolar de 2017-2018”; finalmente, o documento das Aprendizagens Essenciais (AE) – “orientação curricular base na planificação, realização e avaliação do ensino e da aprendizagem, conducentes ao desenvolvimento das competências inscritas no [PA]” (www.dge.mec.pt, acedido em 2017/10/25.
É neste quadro de mudança e desafio que prosseguimos no segundo número da geTup, integrando um conjunto de artigos que remetem para a reflexão/intervenção em didática da Geografia e para perspetivas e eventos que, pela sua pertinência e/ou atualidade, merecem destaque enquanto espaço de (in)formação para professores e estudantes – linhas e imagens para ler que permitem percorrer diversos aspetos associados ao ensino e educação geográfica.
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Na secção “refletir”, Marcos Elias Sala e José Jesús Reyes Nuñez, convidam o leitor a posicionar-se entre 1781 e 1914 para analisar a “Representação cartográfica do relevo em mapas escolares [a partir de] soluções cartográficas e didáticas em atlas escolares antigos da Hungria”, soluções estas que “…se continuaron desarrollando en los años posteriores e incluso hoy continúan siendo parte de los principios de edición de muchos atlas escolares en el mundo”. Em linha, também, com questões de metodologias e recursos para o ensino da Geografia, Maria Helena Ramalho posiciona-nos “Nos meandros da transposição didática: dos ziguezagues da legitimidade à diversidade de possibilidades” para expressar as “…preocupações que têm sido recorrentes no seu percurso profissional e que se consubstanciam principalmente no esboçar de possibilidades e no constatar constrangimentos para a concretizar”.
Entre os jovens professores de Geografia que concluíram os relatórios de estágio, destacam-se na secção “intervir” deste número da geTup os resultados da sua investigação-ação em quatro temas distintos: Adriana Carvalho discute “O jogo didático nas aulas de História e Geografia”, concluindo que a gamificação “…funciona muito melhor como estratégia de desenvolvimento de conteúdos, do que como estratégia de motivação ou de consolidação”; Elisabete Domingos relata-nos a sua experiência de estágio durante a qual procurou perceber se a “deficiência visual [constituiu] ou não um obstáculo ao desenvolvimento da função docente em História e Geografia”; Hélder Quintas Oliveira retoma o tema da “paisagem como elemento integrador no processo de ensino-aprendizagem” para dar conta de atividades baseadas em “…trabalho de campo, com recurso à descrição de paisagens [concluindo] que a leitura da paisagem é fundamental para a educação geográfica e pode ser um cenário de convergência interdisciplinar”; finalmente, Marta Ramos explora a utilização do Facebook como estratégia de ensino-aprendizagem, discutindo a importância das redes sociais como complemento do ensino presencial concluindo “…que as ferramentas disponíveis proporcionam a partilha de informação e facilitam a comunicação e interação alunos-professor, contribuindo para o aumento da motivação e melhoria do processo ensino-aprendizagem”.
A perspetiva da geTup dá voz a Nicole Devy Vareta que, 20 anos após a publicação de uma entrevista sobre incêndios floresteis no Tripeiro, de forma muitíssimo oportuna é desafiada por Jorge Fernandes Alves a revisitar o seu texto para atualizar a leitura que então fez sobre a “Floresta – uma riqueza mágica”. O momento em que a Professora faz esta atualização da informação é particularmente relevante – à tragédia de Pedrógão Grande, vieram juntar-se os incêndios que devastaram vastos hectares de floresta a 15 de outubro último!
Numa outra vertente, agora de ligação com as escolas, a secção “acontecer” remete-nos para a “Perceção do risco: ensaios no ensino secundário”, através de uma atividade realizada com professores e alunos do ensino superior (Mestrado em Ensino de Geografia da FLUP) e do ensino profissional (Escola Secundária da Senhora da Hora). Experimentaram-se diversas metodologias de sensibilização, levantamento e registo gráfico e cartográfico de eventos de base territorial que, na ótica dos jovens alunos, configuravam situações de perigo que deveriam ser objeto de atenção e correção.
Finalmente, o jovem geógrafo Gabriel C. Ferreira marca encontro algures pelo Douro para nos levar até à cidade imperial de Toledo, através de um texto onde recorda uma viagem realizada por “três geógrafos e nada por coincidência viajantes” no verão do ano passado, a que chamou “O Vale do Imperador – Percurso Geográfico”.